Aos poucos o povo esqueceu. Esta história trata de uma lenda contada no Mato Grosso, sobre uma velha e seus estranhos hábitos. Se você você não tem estômago forte, aconselho a não ler esta história. Se você ler, depois não diga que eu não avisei...
A Lenda da Velha do Pântano
por Pedro Moreno
Ordens de despejo nunca são fáceis de executar. Em geral são pessoas pobres e desvalidas de bens materiais. As pessoas não pagam impostos porque não querem, não o fazem, por falta de dinheiro. A maioria é arrastada para fora de casa, e muitas vezes a polícia se faz necessária.
Foram duas horas de viagem até a casa. Uma cabana no meio do nada. Apenas vegetação rasteira em volta da moradia e algumas árvores sem folhas e de troncos retorcidos. Leandro desceu do carro e pisou em uma poça de água. Ele olhou em sua volta e viu que a região era um grande pântano. Ergueu as calças e seguiu até a cabana tentando desviar da lama.
A casa era de madeira cuja pintura já havia descascado faz tempo. As janelas com os vidros quebrados denotavam maus cuidados. Os degraus das escadas não ofereciam segurança de tão podres que estavam. E no último degrau um urubu pousado. Leandro estacou na frente à escada ao ver tal criatura asquerosa. A ave parecia querer recepcioná-lo com seu bico curvo e penas negras.
Leandro tentou assustar o animal com sua mala, mas este apenas deu um passos para o lado. O homem contornou o urubu e chegou na porta da casa. O animal nem pareceu se importar com a presença dele. Com tantos buracos na porta, o interior era visível. Um gato preto e velho passou pela sala e subiu por umas escadas putrefatas e remendadas com tábuas.
Leandro conferiu o relógio e resolveu bater palmas. De súbito, uma senhora despontou no andar superior da casa e começou a desce-lo lentamente. Sua pele enrugada dizia o quão idosa ela era. Suas roupas esfarrapadas não mentiam sua condição precária. O gato vinha logo à frente como se a escolta-se ou até mesmo tivesse subido para chama-la. Os dois formavam uma bizarra dupla.
— Bom dia – disse Leandro meio sem jeito – como a senhora foi informada, eu tenho uma ação de despejo em mãos.
— E?
Todas as pessoas eram rudes com ele. Você não seria? Esse era um péssimo trabalho para exercer e se não fosse os ótimos ganhos, provavelmente ele faria outra coisa.
— Amanhã virei com o trator executar a ordem. Sua casa será demolida de qualquer jeito. Recomendo retirar os móveis – disse Leandro com firmeza.
— Espere um minuto – pediu a senhora –, entre um momento que lhe servirei uma xícara de café.
Agora sim ficou esquisito. Nunca ninguém o tinha convidado para tomar nada, afinal quando ele visitava alguém era sempre com o propósito de derrubar a casa. Então aquela senhora tão maltrapilha estava lhe convidando para um café? Mas a situação ficou mais bizarra, pois Leandro aceitou.
A residência da senhora cheirava à mofo. O gato acompanhou os dois até a cozinha que estava em um estado pior do que o resto da casa. A única coisa notável era um caldeirão suspenso acima de uma fogueira que crepitava. Diversos tipos de temperos estavam pendurados pelas paredes. Em um canto uma geladeira sem a porta servia de armário.
De posse de um bule, a senhora, aproximou-o perto do fogo e despejou água dentro. Leandro puxou uma cadeira, mas essa não parecia muito rígida para se sentar, então preferiu ficar de pé. A mulher sequer olhava para ele, apenas fixava o olhar na chaleira que logo começou a apitar indicando que água fervera. Ela pegou um punhado de café com as mãos e colocou na água que logo turvou. Com um ramo de alguma erva que Leandro não conseguiu identificar, a velha mexeu a água da chaleira. Quando terminou colocou o conteúdo em duas xícaras.
Leandro levantou a xícara em agradecimento e sorveu um belo gole. O café estava ótimo! Com o gosto bem diferente de uma bebida comum, mas ainda sim muito bom. Ergueu a cabeça e viu a senhora olhando para ele sorrindo. Ele retribuiu o sorriso sem pensar. Logo ele desatou a rir. Não entendia o que acontecia com ele, mas Leandro queria gargalhar. Quando terminou sentiu seu corpo fraco. A visão embaçada fazia-o forçar para se manter em pé. A xícara caiu no chão e ele se abaixou para tentar pegar, mas caiu. Não conseguia levantar quando sua visão foi enegrecendo e por fim ele apagou.
Quando acordou sua cabeça doía. Tentou se mexer, mas suas pernas estavam dormentes. Esfregou os olhos e pode ver a figura da velha mexendo o caldeirão com um galho de árvore. Leandro sentiu sua boca seca e com gosto amargo. Levantou-se devagar e sua cabeça parecia que ia explodir. Estava tão ruim que o chão parecia se mover. Precisou de muita concentração para ficar sentado, e quando o fez reparou que havia algo errado.
Suas pernas foram amputadas.
As duas coxas foram enfaixadas na altura do corte. As bandagens cheiravam à algum tipo de bálsamo. Ele não sentia dor, mas estava petrificado. Voltou o olhar para a velha e esta acabara de tirar um pouco do líquido do caldeirão com uma colher, cheirou e depois levou a boca.
— O senhor é bem saboroso! – disse em um tom jocoso.
Leandro sentiu medo. Com os braços começou a rastejar para a saída da casa deixando um rastro de sangue por onde passava. Ouviu a gargalhada da velha e tentou ir mais rápido, porém foi logo alcançado por ela que agora portava um machado de lenhador. Com um só golpe decepou o braço de Leandro fazendo ele cair e gritar de dor.
— Não vai ficar para jantar?
Ele chorava. Coberto de sangue ele olhava para o lado de fora com a certeza que alguém viria ajudá-lo. O urubu que pousava na porta, virou-se meio desengonçado e começou a aproximar do homem. Com a mão que ainda restava ele tentou afastar a ave carniceira, porém levou uma mordida na mão.
— Ei! Ele é meu! – gritou a velha aparecendo com uma vassoura na mão. Acertou o urubu que correu para o lado de fora.
Ela voltou para dentro da cozinha, e tornou a pegar o machado. Na sala Leandro jazia em lágrimas quando levou outra machada. Não aguentando o choque, desmaiou.
Quando acordou sua situação era pior. Seus membros amputados não permitiam nenhum tipo de movimento. Seu ventre fora rasgado e parte de suas entranhas ficaram expostas. Do outro lado da porta o urubu observava Leandro, só não se aproximava pois tinha medo de levar outra vassourada.
Volta e meia a velha puxava com a colher um pedaço de intestino ou algum outro órgão que outrora pertencia a Leandro. Quando o caldo engrossou e o cozimento se fez, a senhora forçava o homem experimentar de sua própria carne. Este já não conseguia reagir. Só estava vivo graças aos unguentos e demais ervas que o deixavam anestesiado enquanto era despedaçado ainda vivo.
O pobre homem ainda viveu uma semana. No dia de sua morte foi feito um guizado cujo cheiro se sentia há vários quilômetros de distância. Desde então nunca mais ninguém ousou incomodar a velha do pântano.
A Lenda da Velha do Pântano
por Pedro Moreno
Ordens de despejo nunca são fáceis de executar. Em geral são pessoas pobres e desvalidas de bens materiais. As pessoas não pagam impostos porque não querem, não o fazem, por falta de dinheiro. A maioria é arrastada para fora de casa, e muitas vezes a polícia se faz necessária.
Foram duas horas de viagem até a casa. Uma cabana no meio do nada. Apenas vegetação rasteira em volta da moradia e algumas árvores sem folhas e de troncos retorcidos. Leandro desceu do carro e pisou em uma poça de água. Ele olhou em sua volta e viu que a região era um grande pântano. Ergueu as calças e seguiu até a cabana tentando desviar da lama.
A casa era de madeira cuja pintura já havia descascado faz tempo. As janelas com os vidros quebrados denotavam maus cuidados. Os degraus das escadas não ofereciam segurança de tão podres que estavam. E no último degrau um urubu pousado. Leandro estacou na frente à escada ao ver tal criatura asquerosa. A ave parecia querer recepcioná-lo com seu bico curvo e penas negras.
Leandro tentou assustar o animal com sua mala, mas este apenas deu um passos para o lado. O homem contornou o urubu e chegou na porta da casa. O animal nem pareceu se importar com a presença dele. Com tantos buracos na porta, o interior era visível. Um gato preto e velho passou pela sala e subiu por umas escadas putrefatas e remendadas com tábuas.
Leandro conferiu o relógio e resolveu bater palmas. De súbito, uma senhora despontou no andar superior da casa e começou a desce-lo lentamente. Sua pele enrugada dizia o quão idosa ela era. Suas roupas esfarrapadas não mentiam sua condição precária. O gato vinha logo à frente como se a escolta-se ou até mesmo tivesse subido para chama-la. Os dois formavam uma bizarra dupla.
— Bom dia – disse Leandro meio sem jeito – como a senhora foi informada, eu tenho uma ação de despejo em mãos.
— E?
Todas as pessoas eram rudes com ele. Você não seria? Esse era um péssimo trabalho para exercer e se não fosse os ótimos ganhos, provavelmente ele faria outra coisa.
— Amanhã virei com o trator executar a ordem. Sua casa será demolida de qualquer jeito. Recomendo retirar os móveis – disse Leandro com firmeza.
— Espere um minuto – pediu a senhora –, entre um momento que lhe servirei uma xícara de café.
Agora sim ficou esquisito. Nunca ninguém o tinha convidado para tomar nada, afinal quando ele visitava alguém era sempre com o propósito de derrubar a casa. Então aquela senhora tão maltrapilha estava lhe convidando para um café? Mas a situação ficou mais bizarra, pois Leandro aceitou.
A residência da senhora cheirava à mofo. O gato acompanhou os dois até a cozinha que estava em um estado pior do que o resto da casa. A única coisa notável era um caldeirão suspenso acima de uma fogueira que crepitava. Diversos tipos de temperos estavam pendurados pelas paredes. Em um canto uma geladeira sem a porta servia de armário.
De posse de um bule, a senhora, aproximou-o perto do fogo e despejou água dentro. Leandro puxou uma cadeira, mas essa não parecia muito rígida para se sentar, então preferiu ficar de pé. A mulher sequer olhava para ele, apenas fixava o olhar na chaleira que logo começou a apitar indicando que água fervera. Ela pegou um punhado de café com as mãos e colocou na água que logo turvou. Com um ramo de alguma erva que Leandro não conseguiu identificar, a velha mexeu a água da chaleira. Quando terminou colocou o conteúdo em duas xícaras.
Leandro levantou a xícara em agradecimento e sorveu um belo gole. O café estava ótimo! Com o gosto bem diferente de uma bebida comum, mas ainda sim muito bom. Ergueu a cabeça e viu a senhora olhando para ele sorrindo. Ele retribuiu o sorriso sem pensar. Logo ele desatou a rir. Não entendia o que acontecia com ele, mas Leandro queria gargalhar. Quando terminou sentiu seu corpo fraco. A visão embaçada fazia-o forçar para se manter em pé. A xícara caiu no chão e ele se abaixou para tentar pegar, mas caiu. Não conseguia levantar quando sua visão foi enegrecendo e por fim ele apagou.
Quando acordou sua cabeça doía. Tentou se mexer, mas suas pernas estavam dormentes. Esfregou os olhos e pode ver a figura da velha mexendo o caldeirão com um galho de árvore. Leandro sentiu sua boca seca e com gosto amargo. Levantou-se devagar e sua cabeça parecia que ia explodir. Estava tão ruim que o chão parecia se mover. Precisou de muita concentração para ficar sentado, e quando o fez reparou que havia algo errado.
Suas pernas foram amputadas.
As duas coxas foram enfaixadas na altura do corte. As bandagens cheiravam à algum tipo de bálsamo. Ele não sentia dor, mas estava petrificado. Voltou o olhar para a velha e esta acabara de tirar um pouco do líquido do caldeirão com uma colher, cheirou e depois levou a boca.
— O senhor é bem saboroso! – disse em um tom jocoso.
Leandro sentiu medo. Com os braços começou a rastejar para a saída da casa deixando um rastro de sangue por onde passava. Ouviu a gargalhada da velha e tentou ir mais rápido, porém foi logo alcançado por ela que agora portava um machado de lenhador. Com um só golpe decepou o braço de Leandro fazendo ele cair e gritar de dor.
— Não vai ficar para jantar?
Ele chorava. Coberto de sangue ele olhava para o lado de fora com a certeza que alguém viria ajudá-lo. O urubu que pousava na porta, virou-se meio desengonçado e começou a aproximar do homem. Com a mão que ainda restava ele tentou afastar a ave carniceira, porém levou uma mordida na mão.
— Ei! Ele é meu! – gritou a velha aparecendo com uma vassoura na mão. Acertou o urubu que correu para o lado de fora.
Ela voltou para dentro da cozinha, e tornou a pegar o machado. Na sala Leandro jazia em lágrimas quando levou outra machada. Não aguentando o choque, desmaiou.
Quando acordou sua situação era pior. Seus membros amputados não permitiam nenhum tipo de movimento. Seu ventre fora rasgado e parte de suas entranhas ficaram expostas. Do outro lado da porta o urubu observava Leandro, só não se aproximava pois tinha medo de levar outra vassourada.
Volta e meia a velha puxava com a colher um pedaço de intestino ou algum outro órgão que outrora pertencia a Leandro. Quando o caldo engrossou e o cozimento se fez, a senhora forçava o homem experimentar de sua própria carne. Este já não conseguia reagir. Só estava vivo graças aos unguentos e demais ervas que o deixavam anestesiado enquanto era despedaçado ainda vivo.
O pobre homem ainda viveu uma semana. No dia de sua morte foi feito um guizado cujo cheiro se sentia há vários quilômetros de distância. Desde então nunca mais ninguém ousou incomodar a velha do pântano.
Pedro Moreno
www.bibliotecadosvampiros.com
ACENDAM AS LUZES QUANDO FOREM DORMIR!
By: Ceifeiro
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